Acordar sem saber se queremos que esteja muito bom tempo para ir passear num jardim, caminhar à beira-mar, conviver numa esplanada com uma imperial à frente ainda de calções e t-shirt.... Ou se queremos que já esteja um friozinho lá fora para termos a desculpa perfeita para não tirar o pijama o dia todo e ficar na cama/sofá a vegetar entre séries e filmes acompanhados de uma chávena de chá e um bolo acabadinho de sair do forno.
Já perceberam aqui que eu gosto do Outono. Prefiro o Verão, sim, mas há coisas em que nenhuma outra estação consegue superar o Outono. É a estação mais aconchegante, ainda não está o frio nojento do Inverno e já não estamos a derreter com os 40º do Verão. Tem a medida certa para ser a estação do recomeço, da reflexão e do regresso aos dias de preguiça em casa. Se forem esquisitos como eu, gostam de conjugar as estações do ano com os filmes que vêem, os livros que lêem e até alguma decoração que têm em casa. Por isso, fica aqui uma lista de cinco filmes ótimos para ver no Outono e entrar no espírito da estação.
O Clube dos Poetas Mortos - Dead Poets Society (1989)
O Clube dos Poetas Mortos é um filme incrível, especial, sensível e de uma beleza tocante, ainda que agridoce. Com Robin Williams no papel de Mr. Keating, professor de literatura, a eterna expressão "Oh Captain, my Captain" ganhou vida própria dentro e fora do ecrã.
Um outono maravilhosamente filmado é o cenário onde se desenrola a história, com o início das aulas num colégio interno para rapazes. Robin Williams é um professor nada ortodoxo numa escola vestida de regras e conservadorismo, que se vai tornar uma inspiração para os seus alunos. Nas aulas, fá-los sair da zona de conforto, fá-los descobrir o gosto pela poesia e motiva-os a seguirem os seus sonhos, a criarem as suas próprias ideias e não apenas o que a sociedade lhes impõe. Pelo meio, fala-lhes do "Dead Poets Society", um clube secreto que fundou com os amigos quando lá estudava e que os rapazes decidem ressuscitar. Pelo meio temos alguns dramas adolescentes, as primeiras paixões, a rebeldia contra as regras impostas, a descoberta de que há mundo além dos deveres escolares.
No geral, há uma mensagem de carpe diem presente em todo o filme. E vale cada segundo.
Mas a poesia, o romance, o amor...é isso que nos mantém vivos".
Um amor inevitável - When Harry met Sally (1989)
Dizem que "When Harry met Sally" é mãe das comédias românticas! Protagonizado pela antiga rainha do género, "a" namoradinha de Hollywood do final dos anos 80 e início dos 90, Meg Ryan, (antes de ser perder nas plásticas) e por Billy Crystal, o filme passa-se em várias estações do ano, com destaque para as cenas que nos dão aquela imagem clássica de Nova Iorque vestida de laranja e castanho, com camadas de folhas pelo chão e toda uma atmosfera outonal - não fosse a própria imagem do cartaz.
Os dois conhecem-se quando Harry arranja boleia com Sally para ir para Nova Iorque, depois de acabar a faculdade. Durante a viagem, o lado provocador de Harry e o lado ingénuo mas snob de Sally faz com que não simpatizem um com o outro e, mal chegam a NY, vai cada um à sua vida. Encontram-se uns anos mais tarde e a coisa não se resolve. Até que dez anos depois de se conhecerem, esbarram um no outro numa livraria em NY e, como à terceira é de vez, tornam-se amigos e a história desenvolve-se a partir daí. O filme vale muito pelos diálogos, que nos oferecem uma imagem quase fiel do moderno jogo de sedução (ainda que sem redes sociais porque estávamos em 1989). O argumento esteve nomeado para um Óscar e cinco Globos de Ouro. Filme clássico de domingo (de Outono) à tarde.
"Homens e mulheres não podem ser amigos, porque nenhum homem consegue ser
amigo de uma mulher que ache atraente".
Você tem uma mensagem - You've got mail (1998)
Não podia faltar nesta lista outro clássico do Outono, do amor e das comédias românticas, com Meg Ryan e Nova Iorque como pano de fundo outra vez, agora a fazer par com Tom Hanks. Aqui, ela é dona de uma pequena livraria, que se envolve num relacionamento pela Internet, coisinha comum hoje em dia, mas em 1998 era uma novidade. O problema acontece quando a pessoa que está do outro lado, sem saber, é o dono de uma mega livraria que pretende acabar com a sua. Com muitos percalços pelo meio, é um romance fofinho, com comédia e drama na medida certa para uma tarde outonal bem passada.
Um clássico do cinema, vencedor do Óscar de Melhor Filme em 2000 (entre outros), é inspirado na estação mais cosy do ano, o que fica evidente na (genial) cena do saco de plástico.
"Tenho 42 anos. Em menos de um ano vou morrer. Obviamente, ainda não o sei". Conhecemos, desde logo, o destino de Lester Burham (Kevin Spacey), um pai de família a atravessar uma crise de meia-idade. Já não aguenta o emprego, sente-se impotente perante a vida familiar, com um casamento infeliz e uma filha adolescente esquisita. Mas tudo muda quando conhece Angela, amiga da filha, e se começa a sentir atraído por ela (quem não se lembra da mítica cena da Mena Suvari deitada numa cama de pétalas de rosa com outras a cair-lhe por cima?), o que o inspira a mudar de vida. Pede demissão, começa a trabalhar num restaurante de comida rápida, compra um carro desportivo e começa a fumar erva com o vizinho adolescente.
Um filme intemporal, repleto de detalhes e simbolismos que o tornam cómico, irónico e melancólico. Vale também pela metáfora presente no vizinho, sem agarrado a uma câmera de filmar, de que é preciso olhar com outros olhos para as coisas mais simples de forma a ver a beleza delas. Também vale pela banda sonora que lhe assenta na perfeição.
O Outono é sinónimo de quê? Gordices!!! Deixamos os gelados do verão e lançamo-nos às tartes, aos scones e a tudo o que saiba (e cheire) bem em tardes frias ou chuvosas. Mas acima de tudo, voltamos aos chocolates (confessem!!!) que, como bem dizia o Sr. Ferrero Rocher, desaparecem no verão para voltar a fazer as delicias dos consumidores no tempo frio. É por isso que este filme está na lista. Porque é delicioso, literalmente. Tem um enredo interessante, tem o Johny Depp há 15 anos e tem imagens de deixar qualquer um com água na boca. Desafio-vos a ver o filme sem atacarem 67 tabletes de chocolate a seguir, ou durante. O filme conta-nos a história de uma mulher que abre uma Chocolateria numa pequena vila francesa. Uma novidade que vai agitar a vida normal e a mentalidade fechada daquela comunidade, mas os chocolates feitos por ela acabam por adoçar aqueles coraçõezinhos de pedra e mudar a vida daquelas pessoas.
Que até está feliz por estar a chover hoje (mesmo não gostando de chuva) porque assim temos a desculpa perfeita para ficar em casa, na preguiça, a beber qualquer coisa quente, enrolados em mantas e a ler ou a ver séries non stop?
Visitar o Vintage Festival, que nos faz viajar às décadas de 1920 a 1960. Com gastronomia, penteados ao vivo, decoração, moda, tatuagens, livros, artesanato e música. Na FIL, até domingo.
Vamos aproveitar enquanto não chega o frio a sério!
Se tivesse que definir o Outono numa palavra, seria "calma". O Outono é a paz depois da festa. É o recomeço. É o conforto. É a melancolia boa. É ter os dias mais frios, mas não gelados. É o cheiro a castanhas assadas na rua. São os chás e todas as bebidas quentes que nos aquecem as mãos e a alma. São os bolos, as bolachas, os scones. São os livros e as mantas. São as velas. São as meias grossas. É tirar os casacos e as botas do armário. É lembrarmo-nos que até gostamos deles. É ter saudades da praia, ainda com bronze na pele. O Outono é a vida a voltar ao que ela é. E isso nem sempre é mau.
(Imagens: Pinterest/weheartit)
A única coisa má são os dias mais curtos. Mas nada é perfeito.