Passa de dias invernosos em que voltamos a tirar as galochas do armário para este dia de verão ES-PE-TA-CU-LAR. Sol quente, céu azul, pézinhos ao léu, manga curta, saia e almoço com esta vista...tudo a que tenho direito. Soube-me pela vida. Se amanhã estiver igual, arrisco num biquíni e até vou ver como está a temperatura da água.
A pior parte é o trânsito infernal da ponte, mas é abrir as janelas, pôr a música alta e cantar ainda mais alto com quem estiver no carro. Remédio santo para não stressar depois de um dia destes.
Para tirar esta cor de fantasminha que se apoderou da minha pele.
Para me estender ao sol e dizer em alto e bom som "isto é que é vida".
Para poder sair à noite sem gastar dinheiro no bengaleiro com os setenta e cinco casacos que uma pessoa leva para não ter frio.
Para guardar as botas e tirar as sandálias do armário.
Para deixar de dormir de meias.
Para dar mergulhos no mar e sentir que a água salgada resolve tudo.
Para lambuzar-me com gelados sem sentimento de culpa, porque está calor e pode ser.
Para ir comer petiscos ao fim da tarde numa esplanada. Também o posso fazer agora, é certo, se conseguir aguentar a salada de polvo inteira sem estar a comer cabelos com a ventania do demo que tem estado.
Para ver concertos ao ar livre.
Para beber imperiais a ver concertos ao ar livre.
Para sentir que há dias melhores e esses dias se chamam Verão, que traz em si todos os bons verbos deste mundo como viajar, bronzear, petiscar, Algarviar e por aí fora.
Agora que o verão acabou e se instalou oficialmente o outono, é altura de fazer o balanço dos livros lidos nos meses quentes. Foram boas leituras, no geral. Acho que podia ter lido mais, mas tendo em conta que passei Julho quase sem ler (é isso que chamam ressaca literária?) estou feliz com as leituras que fiz. Até porque no verão sabe bem ler devagar, sem pressas, na praia, na piscina, na esplanada ou em qualquer cantinho ao ar livre.
Boneca de Luxo - Truman Capote
Um clássico moderno, publicado em 1958, que deu origem ao "Breakfast at Tiffany's", um dos filmes mais famosos de Hollywood, muito devido à interpretação de Audrey Hepburn. Foi o primeiro livro de Truman Capote que li. Gostei da história. Gosto de personagens femininas com personalidade, meias loucas, que não deixam ninguém indiferente. Mas senti falta de alguma coisa. Senti que faltava aprofundar certas partes da história, dar-lhes mais peso, mais tempo, mais pormenores. Também não gostei da edição que li (da Colecção Mil Folhas lançada pelo Público). Quero ler o original, em inglês, e ver as diferenças. Gostei mais do filme, não só por ter um final completamente diferente do do livro, mas porque me cativou mais.
À noite logo se vê - Mário Zambujal
O meu primeiro contacto com Mário Zambujal. Ganhou uma fã. Que livro divertido! Daqueles que dá gosto a ler, que nos põe bem-dispostos. A estória ganha vida pela forma como Zambujal escreve. Faz-nos rir do insólito da vida comum, das personagens e dos hábitos muito "à portuguesa". Li nesta edição antiga (a primeira!) que os meus pais tinham em casa e aconselho muito para quem quer combater dias enfadonhos. Já tenho mais dois livros dele à espera.
60 sonetos de amor - Florbela Espanca
Adoro a Florbela Espanca e de tempos em tempos volto aos seus poemas. Desta vez nesta edição pequenina que junta 60 sonetos de amor e uma carta dela ao seu irmão, em 1923. Não deixem de conhecer a poesia desta alma atormentada, inquieta e cheia de sofrimentos, que tão bem os soube transformar em poesia.
A Guerra dos Tronos (Crónicas de Gelo e Fogo) - George R. R. Martin
Dispensa apresentações. A série televisiva é uma das minhas preferidas de sempre. Quando acabou a quinta temporada quis voltar a um Westeros onde os Stark ainda estivessem todos vivos e, por isso, comecei a ler o primeiro livro das Crónicas de Gelo e Fogo. Não tenho pressa de os ler todos. Por enquanto li este, hei-de ler o segundo num futuro próximo, mas com calma, até porque ele também tem todaaa a calma do mundo a escrevê-los.
O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald
Um clássico da literatura norte-americana, publicado em 1925. Esta edição traz uma mini biografia de F. Scott Fitzgerald. Já conhecia partes da história dele, mas foi interessante saber mais, antes mesmo de ler o livro. Ficamos a perceber que o próprio Gatsby tem muito de Fitzgerald, assim como a Daisy tem das mulheres que ele amou. Vi o filme com o DiCaprio quando saiu, há uns anos. Não consegui deixar de imaginar os atores enquanto lia o livro. Gostei muito, mas não acho que esta edição do Clube do Autor seja a melhor. Li partes do original e de outras edições em português, que estão traduzidas de forma mais interessante. Mas o livro vale muito a pena e se ainda não viram o filme, leiam o livro primeiro.
Mataram a Cotovia - Harper Lee
Livro incrível! O que mais gostei este ano, com entrada direta para a lista de preferidos. Foi publicado em 1960, ganhou o prémio Pulitzer em 1961 e foi adaptado ao cinema em 1962. Hoje é uma das leituras obrigatórias em escolas norte-americanas.
A estória é narrada pela Scout, uma miúda de 8 anos, que vive com o irmão e o pai, um advogado viúvo, em Maycomb (cidade fictícia no interior do Alabama). Passa-se nos anos 30, numa sociedade racista, preconceituosa e conservadora. Acompanhamos a jornada de crescimento da Scout e do seu irmão Jem, na forma como, da pior maneira, começam a compreender a lógica e as injustiças da vida e das regras sociais, principalmente quando o pai é destacado para defender o caso de um negro acusado de violar uma menina branca, de uma das famílias da cidade. Não quero contar muito sobre a obra, porque é daquelas que tem mesmo que ser lida. A narrativa é deliciosa e a história é emocionante.
O Mensageiro - Andy Andrews
Este era daqueles livros que tinha na estante, não sei já há quanto tempo, nem sequer quem mo ofereceu. Foi editado em Portugal em 2010, por isso deve ser desde essa altura. Diz que é best seller do New York Times (aquela gente não sabe mesmo o que é bom!). "Enquanto alguns nasceram para cantar e outros correm velozmente, eu reparo em coisas a que os outros não prestam atenção", um excerto na contra-capa. Achei curioso. Decidi ler. E não era nada do que estava à espera. Achei a escrita fraca, o storytelling terrível, as personagens pouco trabalhadas e o pior de tudo: parece um livro de auto-ajuda disfarçado de romance. Levou duas estrelas apenas porque, em alguns momentos, tem algumas reflexões interessantes e foi isso que não me fez desistir ao fim dos primeiros três capítulos. Não recomendo.
É realmente melhor andar com 78kg de roupa em cima, com frio em casa, na rua, no trabalho, com a pele cor de lula e com vontade de comer doces de forma a acumular gordura para combater o frio mas nem isso conseguir fazer porque o caminho gelado até à cozinha é uma tortura.